Não é muito comum nos serviços de streaming do Brasil termos acesso a filmes produzidos na Colômbia, ainda mais de terror. Por isso, mas não só, Pranto maldito (Llanto maldito) atrai a atenção de quem olha o catálogo da HBO Max. O trailer promete uma história tensa, um ambiente sombrio e um horror que se inspira mais no clima e na história do que em efeitos especiais.
O "pranto" do título se refere na verdade a uma lenda comum em muitos países latino-americanos e que na Colômbia se conhece por Tarumama. As histórias giram em torno do espírito de uma mulher que, conforme a versão, ou teria ensandecido e afogado os próprios filhos ou teria dado à luz e, exausta pelo parto, deixado o rio levar seu filho. É esta alma perturbada que vai interferir na vida de Sara e Óscar, e de seus dois filhos, Alicia e Tomás.
O casal urbano resolve alugar um chalé em um lugar afastado para tentar reatar laços e manter seu casamento, após a experiência traumática de Sara, que teve um filho natimorto. Quando são apresentados pela responsável ao local em que vão ficar, ficam sabendo que os donos do imóvel também tiveram um filho, ainda criança, morto em um acidente em um rio próximo.
(Aliás, algo bastante normal um chalé que tem fotos da família dos donos na parede e a pessoa que o aluga contar voluntariamente que o filho dos proprietários morreu nas proximidades...)
A história segue mostrando os conflitos do casal e o sofrimento dos filhos com as desavenças dos pais, roteiro que, sem nenhuma ação sobrenatural, afeta infelizmente famílias ao redor do mundo. Não bastasse isso, os integrantes do clã, um a um, começam a ver uma mulher que chora durante a noite.
Neste ponto, os problemas da família se agravam. E os do filme também.
Spoilers daqui em diante
Aos poucos, a situação vai perdendo a verossimilhança não por conta da interferência espiritual, mas sim pela própria reação dos personagens. Obviamente que todo filme de terror precisa de um comportamento algo anormal, descuidado ou cético de algum ou alguns personagens para que haja a tensão e, enfim, o tal horror. Mas a resistência do pai em sair dali após o desconforto geral da família é algo que beira o inacreditável, inclusive diante daquilo que já se conhece de Óscar até então, que não tem um perfil exatamente irrascível, ainda mais com os filhos.
São diversos clichês em sequência, com uma nítida dificuldade na interação entre os personagens e a própria fluidez da história. A certa altura, o espectador é brindado com, talvez, a única referência (fora a lenda, que não é explicitada ou citada no filme) à Colômbia: o sancocho, prato típico também de outros países. E a cena em que a família é convidada para degustar tal cozido é quase deslocada dentro do roteiro, fazendo pouco sentido na trama.
Além disso, na única vez em que aparece o tal rio, o que poderia ser um elemento relevante na composição da história, trata-se de um pequeno riacho sem profundidade, cujo grande perigo são algumas pedras em que se pode escorregar. Trivial e nem um pouco assustador.
O filme é tecnicamente bem feito, com uma fotografia que consegue dar uma atmosfera sombria à trama. Ainda assim, poderia facilmente ser uma película confundida com alguma produção estadunidense. Esta falta de identidade, além da ausência de originalidade, poderia ser compensadas com um ritmo que prendesse o espectador, o que não ocorre.
Se não chega a ser um desastre, Pranto maldito entrega bem menos do que poderia, ainda mais explorando um contexto que, pelo drama em si, já possui sua própria carga de horror.
Pranto maldito (Llanto maldito)
Direção: Andres Beltran
Elenco: Paula Castaño, Andres Londono, Carolina Ribón, Alanna De La Rossa e Jerónimo Barón
Nacionalidade: Colômbia
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