sábado, 12 de setembro de 2020

Cobra Kai na Netflix: sucesso que se justifica


Na sitcom How I Met Your Mother, os amigos do personagem Barney Stinson preparam uma despedida de solteiro para ele, realizando uma lista de desejos, que inclui conhecer o protagonista do filme Karate Kid, de 1984. Como se trata de promover inúmeras "pegadinhas" com o noivo, eles trazem Ralph Machio, que faz Daniel Larusso no filme. Barney rejeita o presente, afirmando que o "verdadeiro" Karate Kid era Johnny Lawrence (William Zabka).

O vídeo com a sequência do seriado segue abaixo.


Muitos entenderam essa passagem como uma espécie de "profecia" ou no mínimo algo que inspirou on Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, os criadores do seriado Cobra Kai. Se o filme original não deixava dúvidas quanto ao protagonismo de Daniel, no melhor estilo mocinho contra vilão, o seriado começa priorizando a história de seu adversário. A época é 2018, 34 anos depois dos dois adolescentes terem se enfrentado em um torneio regional de caratê sub-18.

Enquanto Larusso é agora um bem sucedido dono de uma concessionária de automóveis, Lawrence vive de bicos. Ambos ainda tem relação com o passado adolescente a a fatídica luta. Mas, ao contrário do dualismo que estabelecia bem o papel de cada um na película original, agora há uma zona cinzenta em que nenhum dos dois é tão herói ou vilão assim.

Assim como Better Call Saul resgata as origens e todo o processo que levou o advogado de Walter White a ser o que era em Breaking Bad, o passado de Lawrence também é escrutinado, mostrando que o "menino rico" da película original tem uma trajetória bem mais acidentada do que poderia parecer. Obviamente que essa construção passa longe de ser brilhante como no spin off de Vince Gillian, e a proposta nem é essa: a narrativa é contada de forma mais singela, com referências a filme de artes marciais e mesmo, em alguns momentos, a soap operas ou novelas.

Já Larusso tem uma face esnobe e por vezes arrogante ali evidenciada. A filosofia de seu mentor, "senhor" Miyagi, já morto, inspira sua busca pessoal por equilíbrio, mas também um suposto sentimento de superioridade moral mais pretensioso do que real em muitas ocasiões. É também vendedor também de sua própria imagem, ainda associada ao caratê e ao golpe célebre com que venceu Lawrence.

Nostalgia e ação

Dentro dessa narrativa fluida em que um ou outro protagonista vai merecer simpatia e seu avesso, há também o enredo que envolve os dois filho da dupla e Miguel, que vai se tornar o primeiro aluno no dojo ressuscitado Cobra Kai. Esta subtrama remete diretamente ao filme de 1984, com praticamente os mesmos elementos, a disputa entre representantes de filosofias distintas de caratê (ainda que as diferenças pareçam mais tênues no decorrer da história), jovens em busca de identidade e um triângulo amoroso. Além de uma pitada de Romeu e Julieta...

Se você ainda não assistiu à série, deve estar achando que ela tem muitos clichês. E tem. O roteiro, como já dito, é simples e às vezes peca por aquela inverossimilhança que o espectador logo pensa: "ah, não é possível". Mas isso acaba sendo minimizado pela agilidade da direção, que garante ação durante todo o tempo. E aqui não se trata só da ação entendida em seu conceito clássico que, aqui, seriam as cenas de luta, mas sim a mudança quase constante de situações que explora o tempo todo o limite dos personagens.

Assim, quem acompanha a história está sempre envolvido com algo não resolvido, torcendo para um ou outro protagonista ou desejando a solução de um mal entendido. Ainda conta a favor, para os mais velhos, o fator nostalgia em relação aos anos 1980, o que ajudou em produções como Stranger Things, mas não salvou desastres como That '80s Show. E para os mais novos, a trama dos filhos/pupilos também envolve, como é fácil notar pelas redes sociais.

Cobra Kai prende a atenção, consegue entreter e pode até gerar discussões além da história, como o papel da masculinidade no mundo atual, a dificuldade de adaptação de quem ainda funciona no "modo antigo" ou mesmo o efeito da crise da meia-idade para homens acostumados a um determinado figurino cultural (sobre isso, tem o bom filme espanhol O que os homens falam). 

A terceira temporada de Cobra Kai

As duas primeiras temporadas de Cobra Kai exibidas na Netflix foram produzidas originalmente para o YouTube Premium. Fez algum sucesso lá fora, mais em termos de apreciação "cult" do que de massa, mas chegou com força aqui há pouco tempo, a partir da chegada no catálogo do serviço de streaming mais acessado no país.

Sobre a terceira temporada, segue o que já se sabe (contém spoilers).

O final da segunda temporada deixa uma perspectiva nebulosa para todos os principais personagens, em especial para Miguel (Xolo Maridueña), principal e primeiro aluno de Lawrence que está internado após sofrer uma queda durante uma briga com Robby, aluno de LaRusso e filho de seu antagonista. E agora o dojo Cobra Kai está sob comando de seu fundador, o vilão John Kreese (Martin Kove).

Sobre o que vem a seguir, a Netflix divulgou este trailer:


Pelo teaser, pouco se revela a respeito da estreia da terceira temporada, em 2021, e mesmo da data do lançamento. Mas é possível, junto com informações de pós-produção, ver Daniel Larusso indo para Okinawa, lugar onde ele já foi no filme Karate Kid 2. Desta vez, as filmagens foram de fato realizadas no Japão, já que à época da sequência do original as cenas foram rodadas nas ilha de Oahu, no Hawai.

Pelo desenrolar da trama, é possível uma reaproximação, dentro do contexto de idas e vindas das duas primeiras temporadas, entre Larusso e Lawrence, contra Kreese. Mas daí vamos partir para a especulação. Aguardemos as cenas do próximo capítulo.

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