O filme se passa todo em uma estação rodoviária em 2 de outubro de 1968, dez dias depois de o México ter sediado os Jogos Olímpicos. O dia em si é mais simbólico ainda: foi quando ocorreu o Massacre de Tlatelolco, ocasião em que o governo do país comandou uma brutal repressão contra estudantes de diversas partes do país que protestavam na Plaza de las Tres Culturas. Há diversas versões para o número de vítimas daquele acontecimento, que muitos estimam entre 200 e 300 mortos, enquanto que fontes oficiais anotaram 40 mortos e 20 feridos.
Impossível não ver, ao final do filme, que tal pano de fundo não é à toa, e o filme também é uma parábola que se relaciona a isso. Mas tal referência não é essencial para ver Os Parecidos, que bebe direto na fonte de um dos principais seriados da televisão dos EUA no final dos anos 50 e parte dos 60, Twilight Zone, ou Além da Imaginação no Brasil. Desde a narração em off no início e no fim, passando pela própria natureza da narrativa, a obra de Ezban homenageia os anos 60 no próprio uso das cores, que variam de acordo com a situação dos personagens. Há também menções explícitas ao mestre do suspense Alfred Hitchcock, com a trilha sonora sendo quase um personagem da história, e uma cena que remete ao clássico Psicose.
No início, um gerente de manutenção está preso em uma estação rodoviária esperando por um ônibus que vai até a Cidade do México, atrasado já há quatro horas em função da tempestade que atinge o local. No caso, é uma remissão direta a um episódio de Twilight Zone chamado Mirror Image, em que o cenário e a situação são bem semelhantes. Mas o desenrolar da trama é outro. Ao chegarem outras pessoas no local, alguns passam a sofrer desmaios e sintomas semelhantes a ataques epiléticos. E todos começam a especular (mais que investigar) aquilo que está acontecendo.
O clima de mistério e dúvida envolve quem assiste. Como nos filmes de suspense dos anos 60/70, em que você se debruça para saber qual o papel de cada personagem na trama, o espectador vê uma história na qual não sabe de pronto quem é o protagonista e o que de fato está por trás dos acontecimentos que se sucedem. A condução da direção, junto com a trilha sonora e a atuação segura do elenco, prende a atenção todo o tempo.
Os problemas começam justamente quando a origem dos fatos é desvendada. Além de ser uma solução que fica mais para o clichê do que para a referência/homenagem, a narrativa fica arrastada, algo óbvia, e o suspense, que era a tônica até então, dá lugar a um embate enfadonho. Algumas falhas de roteiro aparecem, mas isso não é o problema principal. A questão é que o filme parece ter acabado bem antes do fim. E com uma solução longe de ser das melhores.
Ainda que haja boas sacadas e momentos interessantes, Os Parecidos peca no principal e deixa a impressão de que ver um episódio do Twilight Zone talvez seja mais produtivo que ver o filme.
Os Parecidos (Los Parecidos)
México, 2015
Direção: Isaac Ezban
Elenco: Luis Alberti, Carmen Beato e Fernando Becerril
Duração: 1h27
Cotação: 5/10
Disponível no Netflix
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